Page 23 - Edição 2 - Revista UFSCar
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ESPECIAL - CANA DE AÇÚCAR
Thiago Balsalobre
mente recebem essas sementes em
agosto e as germinam na área expe-
rimental do Campus, que engloba
110 hectares para todas as etapas
de experimentação. Somente na
fase inicial, cerca de 240 mil indiví-
duos de cópia única são submetidos
a criteriosos processos de avaliação
e seleção. Normalmente, a etapa
inicial dura cerca de dois anos e é a
que apresenta maior variabilidade
genética, associada a uma grande
variabilidade ambiental.
Nas fases seguintes, a quantida-
de de indivíduos diminui drastica- Rogério Gianlorenzo
mente – 1800, 300, 200. Em todas
as etapas, os pesquisadores acom-
panham de forma rigorosa diversas se as usinas seguirem as indicações corrência de outros programas de
características, como a reação dos feitas por nós, elas provavelmente melhoramento. Embora a concor-
clones frente às principais doenças, extrairão o máximo potencial da va- rência incomode, ela é necessária e
longevidade, brotação de soqueiras riedade e, por consequência, obte- faz com que tenhamos ainda mais
(raízes que sobram dentro e fora da rão maior retorno”, explica Pereira . empenho em produzir variedades
terra, após o corte), perfilhamento A Agência de Inovação da melhores do que as já existentes
(crescimento de ramos laterais), de- UFSCar participa do processo de no mercado. E é importante lem-
senvolvimento, entre outras carac- gestão da propriedade intelectual. brar que as cultivares têm um pra-
terísticas, além de entender como As variedades são de propriedade zo de proteção – no Brasil, elas são
o material se comporta no plantio e da Universidade, registradas e pro- protegidas por 15 anos, tempo em
na colheita mecanizada. Todo esse tegidas no Serviço Nacional de Pro- que nós recebemos os royalties das
cuidado é importante para que os teção de Cultivares (SNPC), órgão usinas. Após esse período, a varie-
pesquisadores entreguem um pro- do Ministério da Agricultura, Pecuá- dade fica gratuita, então temos que
duto de alta produtividade e quali- ria e Abastecimento (Mapa). ter a preocupação de produzir me-
dade no mercado – e faz com que Na opinião do professor Paulo lhores variedades para suplantar
o processo de melhoramento dure Hoffmann, o fato de a Ridesa ser as nossas e as dos concorrentes. É
de 12 a 15 anos, até que se chegue responsável por 68% da cana cul- uma pressão, mas é assim que to-
a uma variedade comercial. Segun- tivada no Brasil é gratificante, mas dos ganham”, assegura Hoffmann.
do o coordenador nacional da Ri- também exige cautela e prepa-
desa, há anos em que o Programa ro para enfrentar a concorrência Desvendando o DNA das varieda-
da UFSCar obtém variedades me- – saudável e necessária. “Nós da des de cana-de-açúcar
lhores do que as comerciais. “Nos UFSCar que estamos à frente, com O Programa de Melhoramento
anos em que isso não acontece, a maior área de plantio, temos con- Genético de Cana-de-Açúcar (PMGCA)
não liberamos as variedades”, enfa- conta com a infraestrutura e o pessoal
tiza Hoffmann. capacitado de laboratórios estratégi-
Luiz Fernando Pereira, auxiliar Rogério Gianlorenzo cos, como o Laboratório de Análises
de pesquisa do PMGCA, comple- Nematológicas (LANEM) e o de Biotec-
menta: “Toda cana tem seu nicho, nologia de Plantas (LBP). O LANEM ob-
sua época de colheita e de plan- jetiva apontar a ocorrência no solo
tio. Então nós não podemos colo- de nematoides fitoparasitos (agen-
car um produto no mercado sem tes causadores de doenças), que
conhecer com muito critério cada geralmente atacam raízes, tubércu-
especificidade das variedades”. Ele los e até as partes aéreas de diver-
completa: “é como se estivéssemos sas culturas, o que pode reduzir a
levando uma bula de remédio para produtividade e causar prejuízos. O
o mercado: entregamos os mate- Profa. Monalisa intuito é justamente detectar estes
riais com todas as especificações e, Carneiro nematoides e, se necessário, acio-
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