Page 12 - Revista UFSCar Edição 3
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MEIO AMBIENTE






          capacidade de voo das abelhas  e,   harmônica, trazem bons resultados   nal de agrotóxicos consiste em uma
          consequentemente,  impactam ne-    sem agredir o meio ambiente.       solução que diminuiria o impacto
          gativamente  os serviços de polini-  “Além  disso,  é  necessária  a   negativo  sobre  as  abelhas.  Outra
          zação. Como as abelhas dependem    aplicação correta  de agrotóxicos,   possibilidade é a construção de
          de sua capacidade de voar para co-  somente quando necessário e, so-  corredores ecológicos  em  regiões
          letar alimento e polinizar flores, fica   bretudo, utilizando aqueles con-  de muitas  plantações.  “Nós preci-
          clara a relação entre o impacto dos   siderados  menos  nocivos  ao  am-  samos  de mais  matas  para esses
          agrotóxicos no processo de polini-  biente.  A aplicação de agrotóxicos   insetos,  pois isso  evitaria  que  eles
          zação”, afirma Zacarin.                                               forrageassem  nas  áreas  agrícolas
            Embora grave, de acordo com            “Os corredores               e tomassem contato com os agro-
          as pesquisadoras, o problema com       ecológicos servem              tóxicos. Os corredores ecológicos
          os agrotóxicos pode ser minimiza-                                     servem para emendar áreas de ma-
          do. Para Nocelli, o primeiro passo é   para emendar áreas             tas e contribuem para que as abe-
          fazer com que os produtores rurais                                    lhas permaneçam longe das planta-
          tenham consciência da importância   de matas e contribuem             ções”, explica Nocelli.
          de realizar o controle de pragas a   para que as abelhas                 Também  segundo  as professo-
          partir de um manejo  integrado. O                                     ras da UFSCar, essas ações devem
          conceito de Manejo  Integrado de   permaneçam longe das               ser acompanhadas de um forte
          Pragas (MIP), instituído na década        plantações.”                trabalho  educacional  que  aumen-
          de 1960, prevê o controle de pra-                                     te a consciência das pessoas sobre
          gas  agrícolas com a integração  de   também  não  deve ser  feita,  por   a importância da preservação do
          diferentes ferramentas, como pro-  exemplo,  em  épocas  de  florada,   meio ambiente e do respeito à le-
          dutos químicos, agentes biológicos,   porque pode acabar com os servi-  gislação ambiental vigente.
          extratos vegetais, feromônios, varie-  ços ecossistêmicos de polinização,
          dades de plantas mais resistentes,   feitos de forma gratuita pelos inse-  Espécies brasileiras: um enxa-
          dentre outras. Esses elementos, se   tos”, reforça a docente do Campus   me de descobertas
          utilizados  de  maneira  planejada  e   Araras. Nesse sentido, o uso racio-  A professora Roberta Nocelli ex-
                                                                                plica que, embora a espécie de abe-
                                                                                lha mais conhecida pela população
                                                                                seja a Apis mellifera (a abelha-de-mel),
                                                                                ela não é brasileira. “É o resultado da
                                                                                mistura de subespécies europeias
                                                                                introduzidas no Brasil junto com os
                                                                                imigrantes italianos e alemães, no sé-
                                                                                culo XIX, para a produção de mel, e
                                                                                uma subespécie africana introduzida
                                                                                na década  de  1960  para manejo  e
                                                                                seleção genética. No entanto, antes
                                                                                disso o País já contava com espécies
                                                                                nativas, várias criadas por índios, mas
                                                                                que apareciam em menor quantida-
                                                                                de”, relata ela.
                                                                                   Em  suas  pesquisas  –  laborato-
                                                                                riais e de semicampo – no Campus
                                                                                Araras  da  UFSCar,  a  pesquisadora
                                                                                conta  com seis  espécies  de abe-
                                                                                lhas sociais, todas brasileiras: man-
                                                                                dagari  (Scaptotrigona  postiça),  jataí
                                                                                (Tetragonisca angustula), mandaçaia
                                                                                (Melipona quadrifasciat), marmelada
                                                                                (Friesiomelitta  varia),  iraí (Nannotri-
                                                                                gona testaceicornis) e uruçu nordes-
                                                                                tina (Melipona scutellaris). “Elas nos
                                                                                auxiliam em experimentos e testes
                                                                                sobre a toxicidade de agrotóxicos,
                                                                                feitos  com  diferentes  moléculas  e
           Professora Roberta Nocelli                                           espécies. Por meio de marcadores
           em  trabalho de campo no                                             de toxicidade, biologia celular e mi-
           Campus Araras                                                      Beatriz Rezende  croscopia eletrônica, nós avaliamos


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